Estatísticas de Segurança em Campinas
Campinas apresenta um cenário complexo em termos de segurança pública, com períodos de redução seguidos por aumentos nos índices criminais. Os dados recentes mostram tendências mistas, com reduções em alguns tipos de crimes, mas aumento preocupante nos homicídios no início de 2025. A cidade continua enfrentando desafios significativos, especialmente em áreas de vulnerabilidade social, onde se concentra a maior parte dos crimes violentos.
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Atualizado em: 22/04/2025
Panorama Histórico da Violência em Campinas
Entre 1996 e 2017, Campinas registrou aproximadamente 6.376 homicídios, representando um grave problema de saúde pública segundo critérios internacionais. No período de 7 anos (2011-2017), foram registrados mais de 900 homicídios dolosos, o que representa, em média, 120 óbitos por ano e uma taxa de 14 óbitos a cada 100.000 habitantes. Esta taxa supera significativamente o limite considerado tolerável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece como referência 10 homicídios por 100.000 habitantes.
Em 2017, especificamente, a taxa de homicídios no município alcançou 16 mortes por 100 mil habitantes, superando tanto a taxa do Estado de São Paulo (10,7) quanto o limite estabelecido pela OMS. Houve uma queda acentuada no número de homicídios a partir de 2003, porém, os números se estabilizaram nos anos subsequentes, não apresentando reduções significativas após este período. Esta estabilização indica que, apesar dos esforços implementados, a violência letal permaneceu como um problema persistente na cidade.
Os dados históricos revelam um padrão recorrente na distribuição temporal dos homicídios, com picos e vales que sugerem dinâmicas sociais e criminais complexas que vão além da simples variação estatística. A análise desses padrões é crucial para entender os fatores subjacentes que contribuem para a violência na cidade.
Os bairros mais afetados pela violência em Campinas variam conforme o tipo de crime, mas há áreas que se destacam consistentemente por alta incidência de violência, especialmente em relação à violência contra a mulher, homicídios e crimes contra o patrimônio.
Bairros com mais casos de violência contra a mulher
Segundo dados de 2022, os 10 bairros com maior número de casos de violência física, psicológica ou sexual contra mulheres são concentrados principalmente na região Sudoeste, que responde por 24% dos casos. Entre os bairros mais afetados estão:
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Vila União
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Satélite Íris
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Jardim Bassoli
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Centro
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Padre Anchieta
Estes bairros apresentam alta incidência de agressões físicas, sexuais e psicológicas, com a maioria dos casos ocorrendo dentro de residências.
Áreas com maior concentração de homicídios e violência letal
As regiões mais vulneráveis e com maior concentração de homicídios estão próximas ou dentro de áreas de vulnerabilidade social. Destacam-se:
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Distritos do Campo Grande e Aparecidinha
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Região do Nova Aparecida (incluindo Jardim Rosália, Chácara Boa Vista, Vila Réggio)
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Região do São Marcos (abrangendo Vila Esperança, Jardim Santa Mônica, Jardim Campineiro, parte dos Amarais)
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Região Noroeste (incluindo Recreio Leblon, Parque Valença, Jardim Bassoli, Satélite Íris)
A região central de Campinas também apresenta um hotspot de violência, embora seja a única área de alta violência fora de zona de vulnerabilidade social, abrangendo bairros como Vila Industrial, Botafogo, Ponte Preta, Vila João Jorge, Bosque e Vila Lídia.
Regiões com maior incidência de crimes contra o patrimônio e tráfico
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Região Central
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Taquaral
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Castelo
Estas áreas concentram roubos, furtos, roubos e furtos de veículos, além de ataques a agências bancárias.
Resumo das regiões mais afetadas
Tipo de Violência | Principais Bairros/Regiões |
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Violência contra a mulher | Vila União, Satélite Íris, Jardim Bassoli, Centro, Padre Anchieta (região Sudoeste e distritos Campo Grande e Aparecidinha) |
Homicídios e violência letal | Campo Grande, Aparecidinha, Nova Aparecida, São Marcos, Noroeste (Satélite Íris, Jardim Bassoli) |
Crimes contra patrimônio e tráfico | Centro, Taquaral, Castelo |
A concentração da violência em áreas de vulnerabilidade social e em regiões periféricas reforça a necessidade de políticas públicas focadas nessas localidades para prevenção e combate à criminalidade.
Tendências Recentes (2024-2025)
Os primeiros quatro meses de 2024 apresentaram um quadro relativamente positivo, com redução nos principais índices criminais em comparação ao mesmo período do ano anterior. A queda mais expressiva foi de 6,22% no número de roubos, seguida por uma redução de 5,88% nos homicídios. Outras reduções significativas incluíram roubo de veículos (-3,17%), furtos (-1,82%) e furto de veículos (-0,68%). Estes dados sugerem uma tendência de melhoria na segurança pública durante este período.
No entanto, o início de 2025 trouxe um revés preocupante. Em janeiro de 2025, a cidade registrou 12 homicídios, um aumento de 50% em comparação aos 8 casos do mesmo período de 2024. Este aumento ocorre após dois anos consecutivos de queda nos registros, interrompendo uma tendência que vinha desde 2020, quando foram registrados 19 homicídios em janeiro. Nos anos seguintes, 2021 e 2022, esse número caiu para 13 em ambos os anos.
Um dado particularmente alarmante é que dos 12 homicídios registrados em janeiro de 2025, 5 (equivalente a 41,6%) estão relacionados a intervenções policiais. Este número representa um aumento significativo em relação a janeiro de 2024, quando apenas dois casos de homicídio por intervenção policial foram registrados.
Distribuição Geográfica da Violência
A análise georreferenciada dos homicídios em Campinas revela padrões espaciais significativos. A grande maioria dos homicídios registrados entre 2011 e 2017 (aproximadamente 72%) ocorreu próximo ou no interior de áreas de vulnerabilidade social. Esta concentração evidencia a relação entre desigualdade socioeconômica e violência letal.
Com exceção do centro da cidade, todos os pontos de maior ocorrência de homicídios estão localizados em áreas de vulnerabilidade social. A distribuição espacial também indica uma concentração em determinadas avenidas do município, criando “hotspots” de violência que persistem ao longo do tempo. Este padrão recorrente, onde os homicídios tendem a ocorrer em um raio de pequena distância uns dos outros, sugere a existência de fatores territoriais específicos que contribuem para a perpetuação da violência.
A análise georreferenciada dos dados também identifica uma possível relação entre a violência e a realocação de populações vulneráveis para áreas periféricas da cidade, muitas vezes sem a infraestrutura adequada e distantes dos equipamentos públicos essenciais. Esta distribuição espacial desigual dos serviços públicos e das oportunidades pode contribuir para a perpetuação dos ciclos de violência.
Perfil das Vítimas e Características dos Crimes
O perfil predominante das vítimas de homicídio em Campinas segue um padrão bem definido: jovens do sexo masculino, vitimados principalmente por armas de fogo, em período noturno ou de madrugada, em vias públicas próximas ou dentro de áreas vulneráveis. Este perfil é consistente com os padrões observados em outras cidades brasileiras com altas taxas de violência.
Segundo o titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), Rui Pegolo, a maior parte das execuções em Campinas é motivada por desacertos entre quadrilhas. Dos 12 homicídios registrados em janeiro de 2025, 10 foram esclarecidos com os autores identificados e indiciados, incluindo os cinco casos de intervenção policial.
A predominância de armas de fogo nos homicídios indica a disponibilidade e circulação desses armamentos, apesar das restrições legais. A concentração temporal dos crimes no período noturno e de madrugada sugere vulnerabilidades específicas relacionadas à segurança pública nesses horários.
Ações e Resultados das Forças de Segurança
O relativo sucesso na redução dos índices criminais durante o primeiro quadrimestre de 2024 foi atribuído ao esforço integrado entre a Guarda Municipal e as polícias Militar, Civil e Federal, por meio de operações conjuntas e troca de informações entre as forças de segurança, inclusive com outras guardas municipais da região.
A Secretaria de Segurança Pública de Campinas tem investido em importantes ferramentas de Inteligência, como os sistemas Córtex e Detecta para consulta de banco de dados criminais, além da tecnologia do Sistema Inteligente de Monitoramento Veicular (SIMVECAMP). Este sistema permite que veículos com queixa de furto ou roubo sejam monitorados por câmeras inteligentes, facilitando a recuperação dos mesmos.
Entre janeiro e abril de 2024, a Guarda Municipal de Campinas realizou 18.316 atendimentos em toda a cidade, efetuando 310 prisões, sendo 195 flagrantes e 115 capturas de procurados pela Justiça. As equipes da GM realizaram 1.616 abordagens a pessoas em atitude suspeita, apreenderam 10 armas de fogo, 6 simulacros, R$ 27,7 mil e retiraram de circulação 26,36 kg de drogas. Além disso, foram localizados 143 veículos.
Um ponto preocupante, entretanto, é o aumento das mortes por intervenção policial. Segundo análises do Ministério Público (MP), no ano de 2024, as mortes por intervenções policiais em Campinas aumentaram 66%, saltando de 21 mortes em 2023 para 35 em 2024. Esta tendência se manteve no início de 2025, com 5 dos 12 homicídios de janeiro relacionados a intervenções policiais.
Conclusões e Desafios Futuros
As estatísticas de segurança em Campinas apresentam um quadro multifacetado, com avanços e retrocessos ao longo do tempo. Apesar das reduções em alguns índices criminais durante 2024, o aumento dos homicídios no início de 2025 evidencia a fragilidade desses ganhos e a necessidade de atenção constante às políticas de segurança pública.
A persistente concentração da violência em áreas de vulnerabilidade social indica que as políticas de segurança pública precisam ser acompanhadas por iniciativas de desenvolvimento socioeconômico nestas regiões. A relação entre vulnerabilidade social e violência letal é clara e demanda uma abordagem integrada que vá além do policiamento tradicional.
O aumento das mortes por intervenção policial representa um desafio adicional. Embora a atuação das forças de segurança seja essencial no combate à criminalidade, o aumento da letalidade policial levanta questões sobre os métodos e abordagens utilizados, exigindo maior supervisão e treinamento.
A continuidade das ações integradas entre as diferentes forças de segurança, o investimento em tecnologia e inteligência, e a adoção de estratégias que considerem os fatores sociais e territoriais da violência são elementos cruciais para enfrentar os desafios de segurança em Campinas nos próximos anos. Ademais, é fundamental que haja transparência nos dados e participação da sociedade civil no monitoramento e avaliação das políticas de segurança pública.